Algo curioso, e até admirável, de certa forma, sobre filmes B de terror é a sua capacidade de pegar qualquer assunto e transformar em uma história meia-boca de espíritos. Essas narrativas são, geralmente, sobre o tema que estiver mais em voga com o público jovem, então é apenas natural que nos últimos anos tenha ocorrido uma leva de demônios tecnológicos invadindo redes sociais: uma chamada de Skype em “Amizade Desfeita” (2014), um perfil do Facebook em “Friend Request” (2016), selfies em “Selfie Para O Inferno” (2018) e, o último lançamento dessa lista, o aplicativo amaldiçoado de “Medo Viral”, um longa que é tão estupido quanto sua premissa faz parecer.
A trama se inicia com um grupo de estudantes em luto pela morte de Nikki (Alexis G. Zall) em circunstâncias misteriosas. Algum tempo depois, todos recebem um convite de sua falecida amiga para um aplicativo de inteligência artificial chamado “Bedevil”, que a principio parece ser um eficiente sistema operacional, mas que logo se revela ser uma entidade sobrenatural que se alimenta do medo dos personagens. Cabe então à Alice (Saxon Sharbino), Cody (Mitchell Edwards), Gavin (Carson Boatman), Dan (Brandon Soo Hoo) e Haley (Victory Van Tuyl) descobrir um modo de impedir o demônio e desinstalar o app.
Se a ideia de um aplicativo de celular assombrado parece forçada, é porque ela realmente é uma desculpa para disfarçar a real sinopse do longa, uma versão mal feita de “It: A Coisa” (2017). Isso é algo que fica cada vez mais evidente no filme, primeiro com um assassino sobrenatural que toma forma da maior fobia dos protagonistas, depois com detalhes que parecem ter sidos completamente copiados: um dos personagens tem medo de um quadro, a entidade aparecendo cada vez mais perto em um retrato e, pasmem, o uso de um balão vermelho que representa a presença do ser maligno.
Isso, porém, está longe de ser o único problema com o roteiro. Escrito pelos irmãos Vang – que também dirigem – o script é desfocado e não sabe se quer ser uma paródia ou uma produção séria. Em algumas cenas ele ainda tenta ser autoconsciente com frases como “isso parece um cenário de um filme de terror ruim”, o que é apenas constrangedor quando é dito em um filme de terror ruim.
Além disso, diálogos expositivos, críticas sociais vazias e subtramas que não levam a nada infestam o longa. Uma dessas é especialmente cretina, já que o roteiro justifica que Dan grave a sua namorada durante o sexo sem a permissão dela com “muitas mulheres expõe seus próprios atos na internet”, e a personagem não protesta mais após essa informação. O vídeo é, então, jogado pelo demônio no Instagram, ato que é prontamente esquecido e não interfere em nada no restante da trama.
O mais agravante de todos os seus problemas é que seus personagens não são críveis. É difícil acreditar que nenhum desses jovens ache estranho um aplicativo que se baixa sozinho, acessa os dados de redes sociais sem pedir permissão e consegue apagar as luzes da casa. O longa, porém, tem um momento interessante no desenvolvimento de Cody, um jovem negro que, vítima de preconceitos, tem o seu maior medo personificado na forma de um policial branco.
Essa história problemática é traduzida para a tela do modo mais óbvio possível, com uma direção que prioriza jump scares a compreensibilidade. O acervo de técnicas dos diretores é amplo mas parece não ter propósito, como uma cena que é feita por uma chamada de Skype sem motivo nenhum, já que nenhuma assombração virtual acontece e a conversa seria a mesma do que uma presencial, e o ato final no qual os personagens instalam câmeras em seus arredores sem uma justificativa, só para ter também um pouco de found footage na produção.
O caos no tom também se mantém na direção: suas sequências expositivas são entediantes e as assustadoras são engraçadas, com uma delas servindo como uma homenagem desnecessária ao jogo “Five Nights At Freddy’s” que destoa completamente do resto do longa. O próprio design da criatura principal, que teoricamente mata suas vítima de medo, é tão ridículo que o mais provável é que as mate de rir. O uso de um filtro azul-escuro toda vez que tal entidade aparece também se torna cansativo rápido, além de tornar o visual incompreensível.
“Medo Viral” é um clássico “filme B”, feito para tentar emular um sucesso de bilheteria, mas é incompetente em quase todos os seus aspectos. Algumas de suas cenas podem ser consideradas do “tão ruim que é bom”, mas com uma duração de 100 minutos, o longa é muito mais cansativo do que divertido.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.