Até onde vai a nossa curiosidade?
Desde tempos imemoriais, o homem vasculha o mundo em busca de respostas em relação a existência da humanidade. Como se não bastasse aprofundar-se nas riquezas da natureza, entendendo seus diversos tipos de elementos, desde 1957, quando o primeiro satélite artificial foi lançado, o Sputnik, tais análises passaram a abranger também o espaço e sua imensidão. Depois disso a corrida espacial ficou ainda mais acirrada entre as nações (leia-se: EUA x a extinta URSS), uma vez que certas descobertas poderiam estabelecer qual delas se tornaria a grande potência mundial. Tais investigações e descobertas não só foram determinantes para definição da geopolítica mundial, como ajudaram consideravelmente a evolução da espécie humana e a valorização da vida, possibilitando a cura para várias doenças, o auxílio em certas deficiências e o imprescindível avanço tecnológico que acabou por aproximar (ou afastar, dependendo da forma em que é visto) as pessoas. Sem falar de características precisas, que nos ajudaram a realizar funções mais rapidamente e/ou concluir trabalhos que antes era basicamente impossível.
Com o passar do tempo, a mesma progressão também foi responsável pela diminuição da mão de obra humana. Enquanto antes era necessário dezenas de pessoas, ou um cérebro altamente qualificado, para solucionar complexas questões capazes de garantir a chegada e sobrevivência de cientistas e militares em determinados lugares (Veja “Estrelas além do tempo”), hoje pode ser elucidado por uma pequena máquina com gigantesca capacidade de cálculo, habilitada para fornecer inúmeros caminhos a serem utilizados.
É inevitável que tais mudanças não ocasione a substituição do ser humano. Trata-se da evolução da espécie perante as infinitas possibilidades escondidas nesse abundante universo em que vivemos. Entretanto, toda essa curiosidade pode também levar a situações perigosas, que não agradariam nenhum dos envolvidos. Afinal, ao mesmo tempo que temos uma infindável área para pesquisas e conquistas, podemos considerar também que o desconhecido pode se apresentar de formas variadas. Entre tantos aspectos e condições, não é nenhum segredo que a NASA, e qualquer outro centro de pesquisas ao redor do mundo, tentam há anos esconder verdades que poderiam ser “assustadoras” demais para a população. Mas, o que esperar desses acobertados segredos existentes além do universo que conhecemos?
Essa sempre foi uma dúvida bastante explorada pelas produções cinematográficas e televisivas, gerando sucessos imperdíveis e fracassos desnecessários. E eis que, há um mês do lançamento do mais novo filme de uma das grandes franquias de ficção científica de todos os tempos, “Alien: Covenant”, é a vez da Sony bater nessa mesma tecla e apresentar sua grande aposta para o gênero. E o resultado é, sem dúvida alguma, imperdível. “Vida”, filme dirigido por Daniel Espinosa, abraça o estilo com cautela ao colocar uma equipe de astronautas pesquisadores para investigar a existência de vida fora da terra, mais precisamente em Marte. À bordo de uma estação espacial internacional, durante a audaciosa missão Pilgrim 7, eles conseguem confinar um misterioso protozoário em estado inerte. Porém, durante os primeiros estudos, esse apresenta uma evolução nunca antes notada por nenhum dos cientistas e uma inteligência impressionante, capaz de faze-la entender o ambiente em que se encontra, se adaptando facilmente a certas situações. Com isso, o que era apenas uma exploração torna-se uma claustrofóbica e mortal caçada em que o sobrevivente será primeiro capaz de raciocinar sobre a situação e compreender melhor o seu inimigo.
Embora possua efeitos de primeira linha, a produção que envolve nomes como Bonnie Curtis (“O Resgaste do Soldado Ryan” e “AI – Inteligência Artificial”), Dana Goldberg (“Eu Sou a Lenda” e “Guerra mundial Z”), Don Granger (“Missão Impossível – Nação Secreta”), entre outros conhecidos no mercado de grandes projetos, não faz uso de enormes locações ou cenários gigantescos, trilhando o mesmo caminho já traçado por “Alien” e “Gravidade”. Aparentemente quase todo trabalho foi realizado em estúdio e com o apoio de uma notável pós produção. Contudo, o filme nos conquista mais por sua história e a forma como foi conduzido do que qualquer outra coisa.
Com um roteiro ágil e muito bem constituído, escrito por Rhett Reese e Paul Wernick – ambos responsáveis por “Deadpool” e “Zombieland” -, o filme impressiona em suas sufocantes cenas de ação, que intercalam sabiamente com a narrativa mais séria e os toques de humor utilizados para amenizar a tensão. Isso tudo sem soar inverossímil demais. Além disso, o texto consegue trazer diálogos engenhosos capazes de fazer o espectador refletir sobre a própria existência e precipitadas escolhas que fazem parte da vida. Todavia, é importante ressaltar que isso não acontece todo tempo e os roteiristas acabam por cair na tentação de costurar ideias já utilizadas por esse estilo de cinema.
A direção de Espinosa, acostumado com filmes policiais como “Protegendo o Inimigo” e “Crimes Ocultos”, é bastante satisfatória e faz com que o filme cresça ainda mais. Diferentes movimentos de câmera, casados com planos específicos – entre esses o correto uso da subjetiva – ajudam o filme a se encontrar logo de início. Nesse ponto, inclusive, somos apresentados a um fantástico plano sequência que já pode entrar para nossa galeria de interessantes cenas do cinema.
Com uma fotografia mais fechada, utilizando paletas que variam entre uma escala de cinza que ambienta quase todo o lugar, a um fascinante azul e/ou laranja que destacam o exterior da estação em órbita em torno da terra, somos lançados a uma atmosfera mais profunda, quase que insólita. O diretor de fotografia Seamus McGarvey, nome por trás do sensacional “Animais Noturnos”, nos possibilita uma experiência angustiante que transforma o filme em algo muito maior do que ele poderia ser. Ele consegue transitar entre o drama dos astronautas e o terror vivido por esses, sem precisar apelar para as convencionais sombras ou backlight’s capazes de causar certos medos, ou utilizados apenas para esconder erros de efeitos especiais/visuais.
Seis atores foram suficientes para contar a história e podemos dizer que fizeram isso muito bem, sem exageros ou caricaturas pré-estabelecidas de personagens do tipo. Ryan Reynolds (“Deadpool”), dando um passo de cada vez, está mais seguro de suas interpretações e nos apresenta um trabalho razoavelmente bom. Jake Gylhenhall (“Animais Noturnos” e “Evereste”), mais uma vez prova que não é só mais um rostinho bonito em Hollywood, sabendo escolher bons papéis e construí-los com total sapiência. Ele também deixa claro que foi a escolha certa para substituir Reynolds como principal na produção. Olga Dihovichnaya (“Dengi”), Hiroyuki Sanada (“O último Samurai” e “47 Ronin”) e Ariyon Bakare (“Rogue One”) também estão bem em seus papéis, mas não jogam no mesmo patamar dos demais. Uma diferença que acaba sendo nítida ao longo da projeção. Já Samanta Fergusson – de “Florence – Quem é essa mulher” e “A Garota do Trem” – é a grande estrela da produção. Com um trabalho completo, embasado em um psicológico estruturado e gestos plausíveis, somos capazes de compreender facilmente os motivos de sua persona e nos identificar com tais.
Seguindo a mesma linha da fotografia, a direção de arte do experiente Steven Lawrence (“Titanic” e “Batman – O cavaleiro das Trevas”) e o figurino da oscarizada Jenny Beavan (“Mad Max – A Estrada da Fúria”) apostaram no cinza para ajudar a carregar as cenas, ao mesmo tempo que trabalhavam um contraste com o branco responsável por lavar/clarear determinados ambientes e situações. O uso de cores azul, verde e laranja, inconfundíveis em trajes militares e viagens espaciais, também foram necessários para compor a realização. A produção de objetos, é outra que possui uma impecabilidade singular. Tudo muito bem detalhado, desde os alimentos ao laboratório e outros pontos encontrados na no cenário. Quase tudo estaria no seu devido lugar, se não fosse pelos erros bobos da continuidade que insiste em pecar com grandes produções. Embora não seja algo que atrapalhe tanto, se você estiver envolvido demais na trama pode acabar sofrendo certo afastamento.
Outro ponto positivo desse imprescíndivel suspense de ficção científica é o belíssimo trabalho realizado através da trilha sonora de Jon Ekstrand (“Crimes Ocultos”), que brinca com as notas de forma não linear. A partir de um quase motif – uma continua música que se estabelece ao fundo de um filme por um longo ou completo período de tela – a obra nos faz fugir da casualidade, proporcionando sensações de medo e tensão ao mesmo tempo que nos conforta com certa esperança.
“Vida” pode até não se tornar um clássico, mas bate de frente com diferentes produções de sucesso, incluindo alguns filmes da supracitada franquia “Alien”. Praticamente um terror disfarçado de ficção científica, capaz de te fazer segurar na cadeira durante todo tempo, ele prospera ao criar uma criatura realmente horripilante e ainda abre precedentes para continuações que até poderiam existir, mas precisariam ser muito bem desenvolvidas para não atropelar o clichê.
Trata-se de uma produção que nos desperta reflexões sobre a curiosidade do ser humano. Não obstante, fica a dúvida: uma vez que nunca estivemos tão evoluídos como estamos hoje, será que a nossa sede pelo avanço diminuiria se as investigações científicas deixassem de existir?! Por mais que essa questão possa levar a infindáveis diálogos, todos nós sabemos que o fim da raça humana será conhecido como o dia em que paramos de explorar o universo.
https://youtu.be/gA6HCplnbHI
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